/Basta de dizer Eu Também

Jorge Forbes

        Você chega à festa, encontra os amigos, você está com a maior vontade de contar algo de bom que lhe aconteceu, você espera por sua vez de entrar na roda, tal qual como quando criança a ansiedade subia antes de ser a sua vez de pular a corda estendida, aí você suspira e vai! Conta a sua novidade. Olha em volta, esperando a primeira reação, e ela vem com disfarce de simpatia, quando alguém lhe responde: – “Eu também!”. Mas como assim “eu também”? – “Você não é eu! Isso que contei é a minha novidade, não a sua”, são os pensamentos imediatos que lhe invadem a cabeça e a turvam de desagrado. Mas você não pode nem reclamar, pois a pessoa do “eu também”, quis ser só simpática, aos olhos dos outros e dela mesma. Tudo então piora.

        Tem muito gente que vive no “eu também”. Protegem-se na sua suposta simpatia, até explicam que em grego, de onde surgiu essa palavra, “sim” quer dizer “junto”, e “pathos” quer dizer “paixão”, logo “simpatia” é compartir a paixão. Veja que legal, o “eu também” fica nobremente justificado, quando, no fato mesmo, além da origem da palavra, é só um presente de grego.

        E quando alguém sofre um assalto? Aí então, a carga do drama ouriça a turma do “eu também”. Um diz: -“Roubaram o meu carro ontem”. Os outros respondem: eu também, eu também, eu também. E para não ficar no tudo igual, no empate, cada um vai acrescentando um pouquinho de sal, como naquele velho jogo de memorizar o que cada pessoa foi comprar na feira: roubaram meu carro e minha carteira; roubaram meu carro, minha carteira e meu laptop; meu carro, minha carteira, meu laptop e meu relógio; e por aí a desgraceira prossegue, até aquele que conta que foi sequestrado por seis meses em cela sufocante.  Silêncio, finalmente ninguém retruca com “eu também”. Todos ficam constritos e respeitosos no “puxa!”.

        Será que é necessário tamanho desgaste para que se possa ser ouvido em sua singularidade? Já está mais do que na hora de darmos um basta à hipocrisia amável do “eu também”. Não há o que temer na diferença radical de cada pessoa, ao contrário. Uma coisa boa de um psicanalista é que ao menos ali, falando com ele, temos certeza de que não vamos encontrar alguém que nos responda com o cala boca do “eu também”. Engano é pensar que o contrário do “eu também” seja a frieza. Não é não. É exatamente porque o outro não sou eu, que eu posso amá-lo. Afinal, tem algo pior que você se declarar dizendo: – “Eu te amo”, e ouvir como resposta o triste: -“Eu também”? Ah, não, no mínimo se espera ouvir: -“Eu te amo, também”, o que não é a mesma coisa.

 (artigo publicado na revista Gente IstoÉ – novembro de 2013)