/O Ministério Público em TerraDois

TERRADOIS

Jorge Forbes

Contexto

Já estamos vivendo em TERRADOIS.

Sem nos darmos conta, fomos de um planeta a outro, na maior revolução do laço social dos últimos 2500 anos. Temos vários nomes para essa passagem, tais como globalização e pós-modernidade.

TERRADOIS é igual à TERRAUM, geograficamente, e seus habitantes são muito parecidos. Só. A partir daí, tudo é muito diferente. Do nascimento à morte, passando por todas as etapas da vida: educar, estudar, amar, casar, trabalhar, procriar, profissionalizar, divertir, aposentar, tudo é radicalmente diferente.

Vejamos algumas diferenças:

1. Nascer. Selecionamos embriões – e nem sempre os “melhores”. Pais anões selecionam anões. Surdos selecionam surdos. A maioria, no entanto, escolhe os mais bonitos e inteligentes. Caminhamos, talvez, para uma eugenia? A seleção natural darwiniana está sendo contestada?

2. Educar. A escola perdeu o bonde da história. Professores se desesperam com o desinteresse dos alunos em aprender conforme os métodos disciplinares e hierárquicos. A geração Google não entende o decorar e o repetir. Crise geral.

3. Amar. Surge um “novo amor”. Não se ama mais em “nome de”: dos filhos, da herança, da tradição, da religião etc. Se uma pessoa está com outra é porque quer, mesmo que reclame. O “novo amor” é a nova transcendência humanista.

4. Sexo. É determinação biológica ou escolha? Todas as formas de amor são possíveis e valem a pena? Esses debates ocupam como nunca dantes a cena social.

5. Trabalhar. O trabalho passa a ser associado diretamente à vida da pessoa. Não é mais um local onde se ganha dinheiro, para gastá-lo no que importa. O trabalho em si tem que importar. É impressionante o número de jovens que não se interessam por planos de carreira baseados no ganho certo e na segurança da estabilidade. Empresas deverão ser editoras, curadoras de cultura, mais do que simples patrocinadoras.

6. Procriar. Muitas mulheres estão congelando óvulos sadios para melhor escolherem o momento de engravidar. Ao mesmo tempo, jovens casais querem ter logo filhos para que esses tenham pais moços. Como em tudo, não há regra.

7. Profissionalizar. Quase todas as pessoas terão duas ou três profissões diferentes.

8. Divertir. O entretenimento deverá se articular com a cultura.

9. Aposentar. Não haverá mecanismos de seguridade social que suportem uma população que aumentou em 30% a expectativa de vida e que continua aumentando. O pai não poderá mais ser o provedor e o sábio. Filhos e os próprios pais entrarão em crise de identidade.

10. Morrer. Hoje podemos mais do que desejamos. Esse aspecto fica muito evidente na definição da hora da morte. O que era “morte natural” passou a ser morte escolhida, uma vez que a tecnologia prolonga em muito a vida mecânica.

Essas mudanças têm sido tratadas com velhos remédios, por falta de algo melhor. São necessários novos conceitos para legitimar TERRADOIS. Nossos mapas envelheceram e, no entanto, continuamos a navegar por eles. Temos naufragado repetidamente, basta ver os crimes inusitados de filhos matando pais e vice-versa, da atual epidemia de tóxicos, do aumento da bulimia e da anorexia, das peles escarificadas, de pessoas deletando pessoas, da crise de representação política, da crise jurídica, das crises de governança e de posicionamento das empresas etc, etc.

Se não formos capazes de habitar TERRADOIS, veremos continuar crescendo as soluções para trás, ou seja, reacionárias, dos livros de “auto-ajuda”, no plano laico, e de novos ritos mágicos, no plano espiritual.

Necessitamos de uma política que mostre, elucide, convide à fantástica experiência de estabelecer novas formas de viver e de se relacionar, tanto no nível do indivíduo, como no das instituições. TERRADOIS não pode continuar sendo vista como uma terrível ameaça, mas ao contrário, ela é uma enorme chance para a humanidade se reinventar.

TERRADOIS deve ser do nosso desejo e responsabilidade.

 

o curso
COMO VIVER EM TERRADOIS

JORGE FORBES

O curso ‘COMO VIVER EM TERRADOIS?’, em sua primeira temporada, se realizará em doze episódios. Os seis primeiros serão dedicados a compreender os paradigmas de um novo tempo, no qual tudo é diferente do que sempre foi. Jorge Forbes, tutor e professor desse curso, será responsável por essa transmissão. Os seis episódios seguintes serão conversas de juristas convidados, com o psicanalista, visando legitimar novas práticas para um novo momento das formas de viver.

PROGRAMA DO CURSO

Aula 1. Ser humano não é ser natural

 O que difere os humanos dos demais animais é a nossa capacidade de inovar, duvidar, criar. Uma abelha será sempre uma abelha igual a todas as outras, ela já nasce sabendo o que e como deve fazer; até hoje não houve uma abelha “Niemeyer” que criasse curvas para uma colmeia, deixando-a com formas mais sensuais, ou que mudassem sua dinâmica. Isso se repete com qualquer outro animal.

Mas se o que nos torna tão especiais é exatamente o fato de sermos únicos, pensantes, curiosos e criativos, por que buscamos nos colocar amarras que nos fazem iguais, que fazem com que nossos pensamentos, posturas, vestimentas, sejam os mesmos?

No Homem a existência precede a essência, nos animais a essência precede a existência.

Aula 2. Como se formam o Sentido e o Significado: o signo linguístico?

“Tá ligado?”, pergunta o moço. Ele não perguntou se você concorda com ele ou não. O que ele quer saber é se algo que nele faz sentido, também o faz em você. Dessa forma funcionam os virais; eles não atingiriam milhões de pessoas se tivessem um significado fechado.

É o momento de diferenciarmos o ser totalitário, do ser arbitrário e de verificarmos que o “mal entendido” jamais será abolido entre humanos.

Aula 3. Os tempos éticos. As revoluções das maneiras de ser

Cada tempo ético se refere a um elemento que transcende e une as pessoas por um mesmo grande ideal, seja ele a Natureza, Deus, a Razão. A mudança de tempos éticos não faz com que o elemento ético da era anterior seja abandonado, mas que não seja mais a grande força propulsora e aglutinadora da sociedade.

A nova era que vivemos é marcada pelo exercício da singularidade, a não ser confundida com egocentrismo. Não morremos mais por uma guerra, revolução, ou religião, no ocidente. Morremos, no entanto. por um filho. Não se trata de se ter mais ou menos ética, e sim qual ética utilizaremos para nos orientar em TerraDois.

Aula 4. Não somos mais quem um dia fomos

Já estamos em TERRADOIS e não há volta. Essa mudança do pensar e do agir foi anunciada há muito tempo, por volta de 1870, mas só experimentada a partir de 1960, eclodindo na década de 1990, com a horizontalização dos laços sociais que nos levou a um novo mundo de características muito diversas. Do padronizado, fomos para o múltiplo; do rígido, ao flexível; do previsível, ao surpreendente; do disciplinado, ao responsável, só para citar alguns exemplos.

A pandemia conseguiu acelerar o que já se manifestava fazendo com que a ruptura entre aqueles que habitam TERRAUM e os que habitam TERRADOIS se tornasse ainda mais evidente, produzindo ruídos nas relações pessoais e profissionais. A boa notícia para quem começa a desbravar essa nova TERRA é o fato dela se basear em duas características: criatividade e amizade. Criatividade, dado que ela é incompleta, e amizade, dado ser o principal afeto horizontal.

 Aula 5. A Inteligência Artificial: seus efeitos sobre a humanidade

Qual a diferença entre as três principais posições frente à IA-Inteligência Artificial: pós-humanismo, transhumanismo e bio-defensores? Trabalhos desaparecerão, outros tantos serão criados. O risco do analfabetismo digital é grande.

Dois aspectos a discutir: hoje podemos mais do que queremos e o que é felicidade. Merecemos ou encontramos?

Aula 6. As perguntas que eu gostaria de fazer sobre: Nascimento, Educação, Adolescência, Trabalho, Mulher, Família, Amor e Morte. Como serão em TERRADOIS?

Mas se tudo muda em TERRADOIS, como será a minha relação com alguns dos aspectos que mais se envolvem em minha vida? Quais serão os impactos diretos na minha casa, na profissão, na minha relação comigo e com o outro? Como eu enxergo TERRADOIS? E, principalmente, como eu me enxergo em TERRADOIS?

NOTA: Como dito no início, após as 6 primeiras aulas proferidas por Jorge Forbes, seguirão seis aulas-debate coordenadas por ele, com convidados especiais, cada uma lançando uma pergunta singular ao Ministério Público. Segue o programa.

Programa das aulas-debate, coordenadas por Jorge Forbes:

Aula 7. Ministra do STF Cármen Lúcia Antunes Rocha
“O que numa democracia atual pode-se esperar de vocês?”

Aula 8. Prof. Dr. Miguel Reale Jr
“É necessária uma lei de Defesa do Estado Democrático de Direito?”

Aula 9. Jornalista Heraldo Pereira
“MP: órgão de acusação e fiscal da Lei? O olhar da Cidadania.”

Aula 10. Prof. Dr. Tércio Sampaio Ferraz Jr
“Qual o papel das Forças Armadas na democracia brasileira (CF artigo 142).”?

Aula 11. Prof. Dr. Oscar Vilhena Vieira
“Como a constituição protege a democracia?  Quem protege a constituição de seus inimigos?  Qual o papel das instituições contra majoritárias?”

Aula 12. Ministro do STF José Antonio Dias Toffoli
“MP: Busca do consenso ou articulação das diferenças?”