/10 anos de Psicanálise no Genoma

Teresa Genesini

A iniciativa do psicanalista Jorge Forbes e da geneticista Mayana Zatz, uma parceria entre Genética e Psicanálise, resultou, em 2006, na criação da Clínica de Psicanálise do Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-Tronco – USP, ligada ao Instituto da Psicanálise Lacaniana – IPLA. Essa clínica atende pacientes afetados por doenças neuromusculares de origem genética, seus familiares e amigos. Nota-se que, frente à angústia de receberem o diagnóstico da doença degenerativa, os pacientes reagem com resignação, enquanto seus familiares manifestam a compaixão. O congelamento nessas posições é causa de grande sofrimento. O tratamento psicanalítico retira a pessoa da sua posição de resignada levando, por vezes, também seus familiares e amigos a saírem da posição de compaixão. A pessoa, em análise, responsabiliza-se pelo seu acaso e inventa um novo jeito de lidar com a surpresa de sua condição clínica.

Durante esses 10 anos, cerca de 200 pessoas foram atendidas, com sucesso registrado.

O trabalho de pesquisa “Desautorizando o sofrimento prêt- à-porter“, desenvolvido nessa Clínica em parceria com o IPLA, vem se desdobrando em novas pesquisas. Vários trabalhos foram apresentados em congressos de psicanálise e de genética.

Neste ano apresentamos, no 22º Congresso Internacional da World Muscle Society (WMS 2017), que aconteceu de 3 a 7 de outubro, em Saint Malo – França, uma pesquisa com as pessoas que fizeram tratamento psicanalítico de setembro de 2006 (início do projeto) a dezembro de 2012, com o objetivo de verificar se seus efeitos se manteriam a longo prazo. O título do trabalho apresentado: Long term follow-up of neuromuscular patients and family members submitted to psychoanalytical treatment.

Das 75 pessoas listadas, 43 (57%) responderam à pesquisa. Os resultados foram surpreendentes.

Participantes da pesquisa por tipo de desordem neuromuscular:

 

Tipo de desordem

Neuromuscular

 

 

Portador

(nº)

Familiar de portador

(nº)

 

Total

(nº / %)

Atrofia espinhal progressiva 1 1 2 (5 %)
Ataxia espinocerebelar 6 2 8 (18 %)
Distrofia muscular Becker 4 1 5 (12 %)
Distrofia muscular Cinturas 6 3 9 (21 %)
Distrofia muscular Duchenne 2 5 7 (16 %)
D.m. Facio-escapulo-humeral 8 8 (18 %)
Distrofia muscular Steinert 4 4 (10 %)
       
Total 31 (72 %) 12 (28 %) 43 (100 %)

 

Dados de SAÚDE:

Dentre os 31 portadores de algum tipo de desordem neuromuscular:

22 (71 %) tiveram progressão da doença

7 (23 %) usam Bipap

2 (6 %) estão em estado terminal

RESULTADOS EM RELAÇÃO À VIDA AMOROSA, VIDA SOCIAL E POSIÇÃO PESSOAL

31 (72 %) tem vida social ativa

30 (70 %) se dizem felizes

26 (60 %) declaram que estão bem com a vida, lidando bem com a doença

16 (37 %) tem uma relação afetiva /vida amorosa

POSIÇÃO EM RELAÇÃO AO TRATAMENTO PSICANALÍTICO

42 (98 %)  afirmam que a vida mudou com a psicanálise

29 (67 %) afirmam que os efeitos se mantêm

11 (26 %) gostariam de retomar a análise

2 (5 %) continuam ainda em análise

1 (2 %) não observou efeito algum do tratamento psicanalítico

Os resultados mostram que a psicanálise alterou suas histórias pessoais e retirou a queixa narcísica. Eles aprenderam a lidar melhor com sua condição, construindo narrativas singulares.

Alguns depoimentos:

T: Antes da análise sofria com a doença, tinha dó de mim mesma, não aceitava. Depois da análise me cobro menos, estou mais feliz. Não quero perder tempo em lamentações.

AP: Os efeitos do tratamento analítico ainda estão aí. Saí do “coitadismo” e da proteção da família.

FG: A psicanálise foi “algo precioso”, foi “ fantástico” para mim, me permitiu tomar as decisões que eu deixava de tomar.

Ed: No início tinha vergonha. A bengala foi um choque de realidade. Hoje, não! Decidi não fazer papel de vítima. Considero-me uma pessoa muito feliz.

 

Conclusão da pesquisa: apesar da progressão da doença, a pesquisa confirmou que os efeitos do tratamento psicanalítico estão presentes e fizeram diferença na vida das pessoas.

 

Veja o pôster apresentado no Congresso da WMS2017:
http://www.ipla.com.br/Newsletter/Poster_Neuromuscular_Patients-2017.html