/“Mulheres Insatisfeitas” (revista UMA, maio de 2005)

Jorge Forbes

As mulheres são basicamente insatisfeitas, o que é o mesmo que dizer que são basicamente desejantes. Satisfeitos não desejam, para quê?

Elas são basicamente insatisfeitas por apontarem uma satisfação possível no que ainda virá, no amanhã. Dizê-las sonhadoras vem daí, desse olhar esperançado para um mais além.

Mulheres se satisfazem na diferença, no detalhe. Homens gostam da ordem unida, do grupo, da massa. Mulheres, não, elas não querem encontrar um vestido igual ao seu. Homens adoram o uniforme no trabalho: terno e gravata, ou o macacão; e uniforme nas festas: o smoking preto e branco, ainda por cima alugado.

Mulheres têm vários gozos na cama, homens tendem a um só, que esmaece em seguida.

Mulheres têm sempre muito a escolher, por não serem padronizadas, e como escolher sem a certeza garantida? Surge o desarvoramento, sentimento feminino por excelência.

A insatisfação feminina é doença ou avanço. Doença na histérica imobilizada em sua eterna queixa ao outro, do que lhe faltou. Avanço, normalidade, na sua exigência de uma satisfação além do limite, que não se contenta com os troféus que os homens lhes exibem, e elas pedem ainda mais, mais além das evidências.

Se não fossem essas mulheres, atenção, mulheres, não as histéricas, ainda estaríamos na idade da pedra com os homens elogiando mutuamente seus tacapes.

Mulheres insatisfeitas, de desejo insatisfeito, querem novidade, mudança; homens satisfeitos, de desejo impossível, querem o mesmo, a segurança da repetição.

(rev. UMA, n. 56, maio de 2005).