/De Sandra Grostein: sobre “A nossa política para a psicanálise e a da IPA”

O texto de Miguel Calmon convida ao debate, principalmente ao dizer “que não tem nenhuma dificuldade em concordar com as conclusões de Eric Laurent, e que gostaria que sua instituição pudesse se manter alinhada na mesma direção”. O que é muito interessante, afirma também, ”que a sociedade exige uma discussão para qual não estamos preparados e que não conhecemos ainda as saídas possíveis, mas da qual não podemos ficar de fora”.**

Decidi dar continuidade à discussão, pois entendo que as criticas levantadas por Calmon, são pertinentes na medida em retomam argumentos onde as propostas passam desapercebidas, quando diz que: em seu texto Laurent nada responde ou propõe e, além disso “desqualifica os esforços que estão sendo feitos e que suas criticas embora oportunas e importantes não são suficientes colaborando para silenciar o problema”.**

Vale então ressaltar que os psicanalistas estão de acordo com a necessidade de participar da discussão que a sociedade atual exige sobre o lugar da psicanálise no mundo hoje.

Laurent, a meu ver apresenta com clareza os pontos de divergência entre a política da IPA e as propostas da política lacaniana.

A saber:

  1. Diz não à proposta da criação de um diploma de psicanálise conferido pela Universidade e reitera a responsabilidade das instituições psicanalíticas pela formação dos analistas.
  2. Diz não a acordos com o projeto DSM, tais como o eixo II do DSM IV-substituição da histeria pelos transtornos de personalidade-ou ainda o eixo VI do DSM V como propõe Eizirik-sobre os aspectos psicodinâmicos. Neste ponto Laurent é radical, anuncia que qualquer acordo beneficiará o “avanço de uma clínica simplificadora, do medicamento e da medicina baseada em evidências”*, logo a rejeição absoluta ao projeto DSM implica também em criticar as tentativas de acordo não se tratando enfim de uma desqualificação dos esforços, mas de uma recusa a estes.
  3. Diz não às alianças com as psicoterapias cognitivo-comportamentais e propõe por outro lado alianças dentro e fora da universidade com as psicoterapias relacionais, as quais devem ser claramente expressas e anunciadas.

Para concluir, as propostas de Laurent, são fiéis ao compromisso ético apresentado por Lacan no Ato de fundação da ECF, que define nossa política como – “reconduzir a práxis original instituída por Freud ao dever que lhe compete em nosso mundo, através da crítica assídua denunciando os desvios e comprometimentos que amortecem seu progresso ao degradarem seu emprego”.(1)

Finalmente um voto, que a iniciativa do Projeto Análise em promover uma discussão sobre “uma política para a psicanálise” possa estimular não só a IPA e AMP, mas também outras instituições preocupadas com o “futuro” da psicanálise em apresentar suas criticam e propostas que fortaleçam uma política que se oriente numa mesma direção, tal qual nos lembra Calmon, quando da ação necessária contra a regulamentação da psicanálise.

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* Nossa política para a psicanálise e a da IPA: três exemplos –Eric Laurent

** Nossa política para a psicanálise.. – Comentário de Miguel Calmon

(1) Ato de fundação da Escola freudiana de Paris, Jacques Lacan